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Rafinha Bastos: o humor, o ego e o insulto

Depois de vários comentários dispensáveis, Rafinha Bastos foi convidado a “tirar uma folga” do CQC. No programa de ontem, Monica Iozzi substituiu o humorista na bancada e deu a desculpa de que Rafinha estava com cãibra na língua, por isso não estava apresentando o programa. Segundo a Band, Rafinha foi afastado do CQC, mas não da Liga, talvez seja porque na Liga o programa segue um roteiro, já no CQC o que rende dor de cabeça aos produtores são os comentários “improvisados” do apresentador.

Nesta semana, o humorista estampou a capa da Veja São Paulo, que o denominava O Rei da Baixaria e trazia a foto de Rafinha com um chapéu de bobo da corte. A revista trouxe uma reportagem sobre as piadas ofensivas que ele já protagonizou e afirma que no Brasil, os humoristas se escondem por trás da desculpa da liberdade de expressão.

A matéria trouxe a opinião de vários humoristas sobre as atitudes e brincadeiras de mau gosto do comediante. Também não esqueceu de mostrar o que pensa “os ofendidos” pelas piadas, relembrando das outras declarações que insultaram judeus, mulheres vítimas de abuso sexual e deficientes mentais. Deu a voz a Rafinha também, que preferiu não comentar muito sobre sua postura.

Porém o que mais irritou a mídia e alguns telespectadores foi o deboche de Rafinha ontem pelo twitter:

E nas fotos, ele aparecia com modelos gostosonas ao lado da TV que transmitia o CQC, outra foto está numa banheira com uma mulher lendo a Veja citada acima e na última, sendo massageado por uma moça de lingerie. Isso mostra que o humorista além de querer “ficar por cima” da situação, está tentando provar que seu afastamento não o atingiu e que não existe arrependimento em relação às suas declarações.

O que pode surpreender alguns, é o fato de seus seguidores do Twitter apoiarem a atitude do humorista. Nas fotos, muitas pessoas postaram mensagens de apoio e mais uma vez aplaudiram o deboche e a ironia de Rafinha. Fatos como estes apenas inflam o ego do rapaz e mostra que não importa o que ele faça, sempre terá alguém para aprovar suas atitudes. Não é a toa que ele possui o título de “pessoa mais influente do Twitter”.

Vários seguidores defendem a “liberdade” de expressão. Mas a discussão é: que liberdade e até onde ela vai? No momento em que se tem um canal de comunicação com abrangência nacional, é necessário medir as palavras e pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa.  Talvez essa polêmica nos mostre a identidade do público de Rafinha Bastos: pessoas que apóiam insultos, engolem qualquer coisa sem questionar e não possuem senso crítico.

Pessoalmente, gosto de alguns quadros do CQC e sempre tive uma certa simpatia por Rafinha, mas confesso que de uns tempos pra cá reconheço que o sucesso “lhe subiu à cabeça” e o programa está pecando em qualidade.  Não podemos colocar o CQC no patamar “Pânico”, em que o escracho e baixaria são prioridades e que o público é tratado como uma massa de acéfalos sedentos por nudismo e riso gratuito. Mas faz alguns meses que o programa anda repetitivo e meio que perdeu a proposta de humor saudável com prestação de serviço.

A atitude arrogante de Rafinha fez com que o programa corra o risco de perder anunciantes. Hoje, na coluna Outro Canal da Folha de São Paulo, saiu a informação de que Marcus Buaiz (o marido de Wanessa Camargo) e Ronaldo (“o fenômeno”) estão ameaçando retirar os anúncios do CQC depois das atitudes inconseqüentes do apresentador. O programa lidera o faturamento da emissora e cobra R$130 mil reais por 30 segundos de comercial e os merchandings variam de R$240 mil a R$2,4 milhões. A Band ainda não se pronunciou sobre o caso, mas como todo mundo sabe, quando mexe no bolso, a situação muda de cara. Provavelmente esse ocorrido ainda vai dar muita discussão e repercussão.

Deve-se lembrar que antes de ser humorista, Rafinha Bastos é um comunicador. E quando se trata de meios de comunicação de massa, existem muitas coisas envolvidas. Não existe essa de “dane-se, vou falar o que quero”, o comunicador antes de tudo tem um papel social e um compromisso com o público. A empresa de comunicação deve se preocupar com a ideologia que está transmitindo e qual é a impressão que ela quer passar. Comunicadores despreparados e inconseqüentes podem dar audiência, mas não credibilidade.

Juliana Baptista

Juliana Baptista

Camila Vallejo em protesto da UNE: abordagens da Carta Maior e da Veja

No fim do mês de Agosto, os veículos de comunicação foram tomados por notícias sobre a vinda de Camila Vallejo para Brasília. A jovem chilena de 23 anos é líder do movimento estudantil do Chile, e foi convidada para participar do protesto da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Brasil.

Entre os veículos nacionais que deram destaque ao fato, estão a publicação eletrônica Carta Maior e a revista Veja. E, como ambas têm posicionamentos políticos e ideológicos muito contrastantes, o enquadramento que cada uma delas deu ao acontecimento tomou rumos opostos.

Por este se tratar de um movimento que tem como principal propósito combater o neoliberalismo, afim de que a educação pública no país tenha uma qualidade maior, ou seja, por se tratar de um movimento “de esquerda”, Carta Maior optou por retratar Camila como uma heroína, com um perfil construído com base nas maiores qualidade da estudante: garra, esforço, compromisso e obstinação. A matéria é totalmente focada na personagem protagonista, e isso fica explícito através da entrevista “ping-pong” que a revista realiza com ela. Sendo assim, é dado um grande destaque e importância às idéias da líder estudantil chilena, a partir da construção de perguntas que possibilitam um posicionamento favorável aos ideais esquerdistas de Camila Vallejo. Isso fica explícito, por exemplo, ao final da entrevista, quando Carta Maior questiona Camila sobre o destaque que a mídia está dando para sua beleza física em detrimento das suas habilidades intelectuais. Como resposta, ela diz que os “ataques” vêm da direita política, que segundo ela, detém a grande maioria dos veículos de comunicação.

Em contrapartida, a revista Veja, de direita política, usa as características de Camila para desmerecê-la, ou tirar credibilidade de seus argumentos. No início da matéria, Veja dá a entender que a garota só está ganhando destaque nas mídias, em partes, por ser bonita. A seguir, a matéria diz que Camila quer uma intervenção estatal na educação no país, mas Veja tira o valor de seus argumentos quando deixa explícito que foi justamente esse modelo econômico (o neoliberalismo) que tirou o Chile do atraso econômico.

Na segunda parte da matéria, Veja fala sobre a manifestação em Brasília feita pela UNE, mas novamente a revista tenta descredibilizar o movimento, ao dizer que, embora o movimento estudantil tenha elaborado uma lista de 43 reivindicações, nenhuma delas diz respeito à corrupção ou transparência do governo Brasileiro (que atualmente é dirigido pela esquerda política).

É possível perceber ainda, que, embora o título da notícia seja outro, no link da matéria no site da revista, lê-se: une-ignora-corrupcao-em-protesto-na-capital. Ou seja, para defender seus ideais políticos, Veja tenta desviar o foco do protesto contra o modelo neoliberal para a omissão dos protestantes com relação à corrupção do atual governo brasileiro.

 Helena S. Sylvestre
Helena S. Sylvestre